Por Trás das Cortinas
Foto: Acervo pessoal |
A arte em Rudimar Constâncio é pulsação de vida
Por Manoel Constantino
A
vida de Rudimar Constâncio é igual uma paleta, com várias cores e tons, mas
sempre numa paisagem cujo tema é as artes cênicas com pinceladas fortes quando
ele foca o teatro, sua paixão e vida.Natural
de Limoeiro, esse pernambucano parece ser incansável tanto que circula com
desenvoltura como professor, gestor público, ator, produtor teatral,
pesquisador e para arrematar com chave de ouro, é Mestrando em Ciência da Educação pela
Universidade da Madeira, Portugal.
Dono
de um currículo extenso e aplaudido como ator, para melhor conhecê-lo que tal
lembrarmos Avoar, o Mágico de Oz, Andar Sem parar de Transformar, Greta Garbo
quem diria..., As Confrarias, atualmente em cena, com Dorotéia, de Nelson
Rodrigues, com direção de Antonio Cadengue. Como encenador trouxe para a cena
pernambucana os espetáculos Guerreiros
da Bagunça de Guto Greco; Cegonha Boa de Bico de Marilu Alvarez, O Bar das
Ilusões, de Vicente Pereira; Aurora da Minha Vida, de Naum Alves de Souza;
Minha Infância Querida, de Maria Clara Machado, entre outros.
Para vocês um pouco das ideias e sonhos
e vivências de Rudimar Constâncio:
Manoel
Constantino - Quais
foram os seus primeiros passos no teatro e quando se deu a escolha para viver
através das artes?
Rudimar Constâncio - Na igreja
católica... Como tantos outros de minha geração, iniciei muito jovem em 1978,
lá na igreja de São Dimas, um momento feliz em minha vida. A igreja católica
iniciava os jovens para uma consciência crítica e política em plena ditadura
militar. Era um momento de iniciação, de corporificação e comunhão com Deus e o
mundo. Não entendíamos ainda o conceito e função da arte que fazíamos. Tudo era
muito incipiente, mas novo e apaixonante.
O segundo passo foi no SESC em Santo
Amaro, com José Manoel. Este me deu as primeiras lições estético-ética para o
teatro e a condução determinante para minhas escolhas futuras. O SESC é o
responsável por grande parte de minha formação artística/intelectual, pois lá
aprendi a ler, a escrever, a falar e a me
experimentar como ator, diretor, professor e Gestor.
Foto: Acervo pessoal |
O teatro possibilitou toda a
transformação de minha vida, no aspecto cognitivo e social. Acredito no poder da
arte
como forma de conhecimento humano, historicamente construído e em constante
reformulação. É também uma forma de trabalho, comunicação e expressão do
humano, cuja origem se confunde com a do próprio homem, pois é a representação
sócio-político-estético-cultural. É neste conceito que acredito e que escolhi
para condução de minha vida pessoal, artística e profissional.
Manoel Constantino - Nas suas experiências como ator, quais foram os
momentos mais marcantes e por quê?
Rudimar
Constâncio - Vivi momentos
intensos no Teatro como ator, ao fazer o espetáculo Avoar, de Vladimir Capella, direção de José Manoel em 1987. Foi
meu primeiro trabalho profissional e me deparei com a possibilidade de
apreender mais, de romper com o medo de cantar. O espetáculo era um musical,
com muitos movimentos e ali eu aprendi com cada um: Cira Ramos, Carlos Lira,
Flávio Santos, Ivone Cordeiro, Kátia Ribeiro, Paulo Pontes, Célio Pontes,
Hamilton Figueiredo, Otacílio Júnior e o diretor musical André filho que fez
todos cantarem e emocionar muita gente em de 10 anos de circulação pelo Brasil.
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Em Guernica de Fernando Arrabal, com encenação de José Manoel, direção de ator
de Raimundo Branco, cenários e figurinos de Célio Pontes, dividi o palco com
Flávio Santos. Esta leitura do teatro do absurdo foi um grande desafio, me
conduziu de um universo com muitos atores para experimentar um espetáculo com
este grande ator que admiro tanto. Sofremos e nos lamentamos (ator adora se
lamentar e colocar a culpa no diretor), mas o resultado foi engrandecedor,
bonito, valeu muito e só tenho agradecer a Zé Manoel e Branco por este trabalho
bonito.
Greta Garbo, quem diria, terminou no
Irajá, de Fernando Melo, direção de
Romildo Moreira. Um trabalho instigante (eu adorava fazer), embora difícil e
complicado. Primeiro pelo fato de não
percebermos os nossos preconceitos e segundo por ouvir demais as pessoas que
não estavam no processo. De certa forma
essa imaturidade da equipe levou ao fim do espetáculo.
As Confrarias de Jorge Andrade e Dorotéia
de Nelson Rodrigues. Estes dois espetáculos com direção de Antonio Cadengue
foram impulsionadores, despertaram um grande amadurecimento como ator e
pesquisador. Duas experiências ímpares com uma equipe maravilhosa. Contracenar
com Lúcia Machado foi o desafio arrebatador na minha vida de ator, uma mulher
madura, inteligente, generosa e cúmplice. Some-se a tudo isso a tudo isso um
diretor participante, generoso e que estimula os atores e técnicos,
harmonizando o espetáculo com a energia de todos os envolvidos. Não posso
também deixar de registrar a parceria entre eu, Carlos Lira, Elias Villar e
Antonio Cadengue, tal encontro foi responsável pela feitura de três espetáculos
e um seminário sobre Nelson Rodrigues.
Manoel Constantino - Qual a importância, na sua carreira, assumir
outras funções no teatro, como diretor e produtor?
Rudimar
Constâncio - Do teatro eu
gosto de tudo, mas existem as especificidades. Gosto de ler e sou pesquisador,
então o teatro nos possibilita o universo, viver noutros mundos e dirigir uma
peça teatral é magnetizante, é entrar na história que alguém escreveu e
contá-la através de suas ideias e reinventá-la juntando as ideias e técnicas
das interpretações. Isso é fantástico e quando produzimos nos sentimos parte
inteira de nosso negócio... É um pena que o Estado, as empresas privadas não
entendam ainda que as artes poderiam ser
um grande aliado na formação do cidadão brasileiro, pernambucano, recifense.
Lamentavelmente investem demais na cultura de massa, como se todos fossem
iguais, não respeitando as diferenças, tratando os cidadãos como gados, daí a
produção teatral ou de qualquer arte que esteja comprometida com o homem e sua
humanidade não ter vez. De todo modo,
temos que produzir... E se ainda fazemos, é por que somos resistência, se não
produzirmos, deixamos de ser artista...
Manoel Constantino - Os caminhos da academia fazem bem ao artista ou
o torna burocrático, elitista, fechado, intelectual demais? Ou, pelo contrário,
o torna mais aberto aos experimentos, às ousadias?
Rudimar
Constâncio - Vejo a
academia com muita importância para minha vida e para outras pessoas que a
querem ela em suas vidas. Existem artistas que não necessitam e não precisam da
academia, eles produzem, pesquisam, criam seus conceitos e são respeitados por
isso. Eu preciso da disciplina da academia, da sistematização dos processos. As
burocracias precisam ser quebradas sim e se não ocuparmos estas instituições,
elas não mudarão nuca. Por isso as universidades se repensam todos os dias, se
não serão vencidas pelo próprio tempo, precisam ser ocupadas e alcançarem a
velocidade das mudanças.
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Em suma tudo é relativo, podem existir grupos e
associações muito mais fechados do que as universidades e vice versa. O
importante é saber e ter consciência do que se quer e experimentar, estar
sempre em busca do novo, pois quem pesquisa quer descobrir algo, e só os
ousados podem trazer novas ideias e novas ações.
Manoel Constantino - Na sua experiência em gestão pública, nas artes
cênicas, o que mais acrescenta na sua bagagem de vida profissional?
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Rudimar
Constâncio - Tenho a sorte
de trabalhar em uma instituição séria, onde se tem objetivos claros e bem
definidos, não só pela boa administração dos recursos, mas pela transparência
de como é utilizado. Na verdade, a experiência com o SESC é o exemplo que
recebo em meu dia-a-dia com pessoas idôneas e honestas. São lideres visionários
cuja preocupação é deixar um legado para as futuras gerações, tanto na educação
e cultura, como nos esportes e lazer. Fico impressionado que com tão poucos
recursos, em relação a outras instituições, consegue-se fazer muito em todas as
áreas, embora as artes cênicas no SESC sejam privilegiadas com festivais,
circulações, casa de espetáculos, edições de livros, incentivos da cultura de popular até a cultura erudita.
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